Esse é um tema bastante controverso, mas com a falta de água que o mundo e principalmente o Brasil vem enfrentando, se torna muito pertinente. Para agravar a situação comentada, vemos um mundo, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisas em Políticas sobre Alimentos (IFPRI), que precisará de um aumento de 70% na produção de alimentos para todo o globo até 2050 e especificamente para a parcela do mundo em desenvolvimento, o aumento precisará ser na ordem de 100%.
É sabido que não basta aumentar a produção de alimentos para a população crescente, há que lidar com a mudança de hábitos de consumo e também permitir o acesso igualitário de populações a alimentos e demais recursos.
Ao vermos dados da produção global de grãos, em publicação oficial da FAO já de 2015, notamos claramente um aumento de produção; na safra 2010/11 produzimos 2.257 milhões de toneladas e a projeção da safra 2014/15 é de 2.532 milhões de toneladas. É incoerente pensarmos que a produção de alimentos cresce e a fome no mundo não cai. O que há de errado?
Como resolver isso?
Vamos entender brevemente a agricultura.
No mundo, 12% da área continental é destinada para agricultura, sendo que em regiões com déficit hídrico, a agricultura toma 25% desta área. Da área cultivada no mundo, 80 a 83% do total produzem 60% do alimento e, portanto, os outros 17 a 20% da área cultivada, que é irrigada, produz o 40% restante (FAO). Isso gera um índice de aumento de produção de alimentos de 2,66 vezes — de não irrigado para irrigado. Guarde esse número.
Daí evidenciamos o conceito de EFICIÊNCIA DO USO DA ÁGUA.
Começamos a notar a importância da irrigação. Esses dados são de conhecimento comum e apesar do seu impacto não respondem a pergunta… sozinhos. Além do mais, a área irrigada não é totalmente produtiva, pois 30% dela está afetada de forma moderada a severa por salinização/sodificação. A irrigação, além de tudo, é sumariamente crucificada pela mídia ferina por ser responsável pelo consumo de 70% da água doce disponível para captação, dados da ANA de 2013.
Ainda não respondemos a pergunta acima exposta, então, qual a proposta?
Para isso temos que entender um pouco sobre comportamento de coberturas vegetais frente à captação por infiltração de água.
Em um artigo bastante interessante sobre REFLORESTAMENTO COMPENSATÓRIO feito em 2005, vemos que a eficiência de captação de chuvas, comparando áreas de floresta estacional decidual tropical, agricultura e pasto, difere bastante, ficando em 68%, 26% e 6% respectivamente. Isso gera um índice de aumento de produção de água de 2,63 vezes. Também guarde este número, comparando aqui floresta com agricultura convencional.
Daí extraímos o conceito de ÁREA PRODUTORA DE ÁGUA.
E agora? Paramos com o aumento da área irrigada, que consome muita água doce ou paramos com o aumento da área de sequeiro, que não é eficiente nem em produção de alimentos nem em captação de água?
Vamos unir os conceitos, o início da proposta.
A proposta é unir os conceitos de produtividade de água e produtividade de alimentos.
Em contas rápidas, para um exemplo de cultivo de milho, com lâmina de 550 mm requerida para o ciclo produtivo, considerando uma pluviosidade anual de 1.200 mm e fazendo a pergunta de quantos hectares precisamos converter em floresta para tantos hectares que transfiro do cultivo em sequeiro para o irrigado, vemos um número impressionante de 1,09, vamos dizer que aproximadamente 1. Isso que dizer, que para esse caso, preciso criar para cada hectare de área irrigada, 1 hectare de floresta para PRODUZIR A PRÓPRIA ÁGUA, sem contar com Área de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL). Quiçá existirá daqui a 50 anos a APA, Área Produtora de Água, que o agricultor terá que ter floresta para captar SUA própria água a ser usada na irrigação. SERIA UM MECANISMO AUTOREGULATÓRIO, pois quanto mais se quiser irrigar, mais haverá necessidade em reflorestar e, em ambientes mais hostis à agricultura, como no semiárido, a relação seria muito mais alta, provocando mais e mais reflorestamento.
Vale lembrar que junto a tudo isso, temos melhorias de solo, de manejo, de tecnologia, de genética e tudo o mais da ciência e da ecologia que venha a aumentar a eficiência do sistema produtivo.
O mundo vem sofrendo, temos que mudar nossos conceitos, AUMENTAR A EFICIÊNCIA. Temos QUE IRRIGAR.
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